sexta-feira, 26 de outubro de 2012

As escolas devem dizer o que querem e o que são claramente.


Prof. Amilcar Bernardi 

Prevejo que logo, muito logo mesmo, a escola será a única instituição a estimular o pensar ético. Afinal, as religiões estão sendo minimizadas, excluídas dos espaços públicos. As famílias cada vez mais não dão conta delas mesmas nos conflitos morais que as consomem. Os partidos políticos estão agindo em proveito próprio. Os cidadãos mais antigos, os avós, que antes falavam para seus netos do certo e do errado moral, hoje ainda trabalham para sustentarem-se e, não raro, sustentarem seus filhos adultos. Então a educação escolar está assumindo o papel de ensinar as crianças a pensar nos outros e num futuro moralmente bom para todos. É visível que a sociedade cada vez mais esta abandonando os espaços cedidos para que o certo e o errado sejam contados para as crianças e, por outro lado, entregam aos professores a formação moral e cidadã das crianças.

A escola pública não tem partido político, nem segue religiões. Seus professores devem respeitar as diferenças e a pluralidade cultural. Não devem posicionarem-se cada vez mais  em questões de escolhas subjetivas. Afinal, a escola pública tem que aceitar igualmente todos os posicionamentos que não firam a lei. Convém salientar que ensinar as ciências e as letras não é suficiente para educarmos moralmente. Como então educar nesse sentido as crianças e jovens iniciando suas consciências na reflexão ética? Como trabalhar o certo e o errado moral num espaço onde se deve evitar tal discussão?  Como posicionar-se enquanto educador, se sempre a posição adotada vai afrontar alguma outra que tem igual permissão política de conviver? E se todas as posições são cabíveis, como o educador poderá ensinar/ensaiar a escolha moral? Como posicionar-se como modelo moral se a visibilidade da escolha do educador está prejudicada por um ideal estatal/social de tudo ser aceitável, desde que seja legal?  É bem mais fácil no ambiente escolar público evitar inúmeros posicionamentos, notadamente os polêmicos. Por consequência, o espaço da escola pública é preferivelmente a opinião incontroversa ou cientificamente confirmada? Se a resposta for afirmativa, quanto empobrecimento da reflexão sobre o moralmente controverso! A escola pública já não pode sonhar em ser a ágora grega.

Apesar das dificuldades apontadas nos parágrafos anteriores, há a necessidade da experiência da discussão moral (e posteriormente ética) sobre o mundo. Não uma discussão cidadã/política apenas, mas refiro-me a discussão sobre o certo e o errado moral. Toda criança e jovem precisam dessa experiência. Penso que as escolas confessionais tornaram-se a melhor opção para tal discussão. Afirmo isso porque estas escolas têm bastante definidas suas opções. Exercendo a liberdade de escolha, os responsáveis pela educação moral da criança e do jovem, poderão optar por esta ou aquela escola confessional. Isso sem dúvida sobre o que acredita a instituição escolhida. A criança e o jovem poderão adultecer dentro de um espaço pedagógico anteriormente conhecido.

As escolas confessionais, ou qualquer outra escola não religiosa que se permita dizer o que professa de forma clara e inequívoca, tem a vantagem de ser criticada, amada ou excluída pelo que é, pela sua coerência moral. Penso que melhor é pertencer a uma escola religiosa que respeita minhas críticas (respeitosas também) do que pertencer a instituições que tenham dificuldade de dizer quem são além do pensar científico, cidadão e político. Prefiro um lugar que diga antes de eu entrar que é a favor ou contra o aborto (por exemplo). Pior para a formação das consciências é deixá-las em lugares ambíguos onde tanto faz ser a favor ou contra, “antes pelo contrário”.
 

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