sábado, 10 de novembro de 2012

A escola do futuro tem que ser justificada eticamente


Prof. Amilcar Bernardi
 

As forças sociais que produzem uma guerra, por exemplo, só são explicadas eficientemente após a guerra. Antes dos eventos tais forças são inexplicáveis e imprevisíveis.  Se fosse possível plenamente entendê-las antes, grandes impérios talvez não ruíssem. Creio que o antagonismo indivíduo (egoísmo) X Coletividade (altruísmo) é o que move as pessoas, as sociedades. Quanto mais o indivíduo tem esperança que a vida em sociedade é melhor que o individualismo, mais dócil ele será aos limites que a ele é imposto pelos demais. Se a desesperança cresce, decresce a civilidade. Esse antagonismo e essa esperança criam colisões e coesões entre si imprevisíveis. São forças tão colossais que tornam impossível a exata previsão do futuro das relações humanas. Imprevisibilidade, já mencionada no início do parágrafo, semelhante ao que acontece nas grandes guerras e quedas de impérios.

Quando vejo intelectuais prevendo com certeza a escola do futuro olhando para trás, ou olhando o que está passando pelos seus olhos agora, sorrio incrédulo. Isso me faz lembrar a recente comprovação da partícula de Bóson (Partícula elementar que representa a chave para explicar a origem da massa das outras partículas elementares.). Partícula que abre um mundo tão amplo para a ciência, que não é possível prever as consequências dessa comprovação. Faço uma relação com a escola. Uma instituição criada ontem (sob o ponto de vista da história da humanidade) e já tem milhares de teóricos predizendo seu destino! Como se o futuro da escola fosse algo menos complexo que a previsão do que acontecerá após a confirmação da existência da partícula de Bóson!

Respeitando a complexidade dessa instituição, a escola, digo que estamos num vácuo ético em relação ao futuro dela. Já foi dito muito sobre o que a escola não deve ser observando sua história. Já foi dito muito sobre o que a escola deve ser, aí sem olhar sua história, buscando uma utopia que não se encaixa na nossa sociedade. Uma sociedade que muda impelida pela ciência, que muda impelida pela tecnologia, que avança vencendo barreiras culturais e que ao mesmo tempo quer ser bairrista, quer validar sua cultura em detrimento das outras, que quer lucro sem se importar com o país vizinho. Onde o ideal de escola se encaixa nisso? Sinto dizer: não se encaixa ou quando se encaixa, temos vergonha dos resultados desse encaixe. Digo vergonha porque a instituição de ensino encaixada, forma inúmeros profissionais mesquinhos, egoístas, que vivem com valores antissociais até. Igual a sociedade que a sustenta.

O vácuo ético se apresenta quando queremos ver a escola do futuro como uma escola que moralmente seja justificável. Então surgem as questões: Por quais valores queremos que a escola do futuro se paute? Ou não queremos saber disso? Escola para quê? Para quem? Uma escola regida sob o ponto de vista do capitalismo poderá um dia ser justa? Um lugar onde se aprende pelo amor ao aprender é possível num ambiente competitivo e de poucos empregos? É possível o amor ao próximo num ambiente de ensino excludente, onde, na melhor das hipóteses, vence quem sabe mais ficando para trás quem sabe menos? É possível uma escola num ambiente de desesperança na própria permanência do homem na terra? Teremos a coragem (e honestidade) de dizer que queremos sim uma escola excludente que prepare nossos filhos (e não o dos outros) para o sucesso? Teremos a força moral de afirmar uma escola no futuro que prepare uns para bons empregos, outros para empregos ruins e outros tantos para o desemprego? Criticar é fácil, desestimular os educadores é fácil, justificar o futuro escolar moralmente é difícil e para poucos.

O vácuo está aí no futuro ético da escola, tanto quanto na incerteza do que faremos com a confirmação da partícula de Bóson. Não sabemos o que fazer eticamente porque não damos conta moralmente nem da escola que temos hoje. Não sabemos dizer claramente o que queremos dela. Num futuro incerto onde não sabemos o que vai acontecer, pois tudo muda, alguns intelectuais querem colocar (prever) uma escola fora de contexto. Na verdade sempre estaremos fora de contexto quando falamos de futuro, pois não há como prever o que acontecerá moralmente.  Alguns pensadores querem explicar uma futura derrocada da educação antes que tal derrocada aconteça. Nada aprenderam com a história do mundo, uma história que explica os fatos somente após acontecerem. Não temos que explicar uma escola que ainda não nasceu. Temos que afirmar corajosamente (e fora do contexto futuro) como a queremos, que valores queremos que a norteie e lutar por isso.  Será como um filho. Uma criança sempre é imprevisível e inexplicável. Porém, os pais amorosos e esperançosos antes de tudo, que não tiverem elencado valores plausíveis que o formarão, com certeza, terão um grande problema nas mãos. Projetar moralmente e responsavelmente um filho, mesmo que tudo dê errado, deixa os pais com a consciência tranquila. Isso porque tudo tentaram e projetaram moralmente na esperança de um adulto eticamente melhor. Façamos isso com as escolas do futuro.