Jogos de linguagem em Wittgenstein[1]
Neste estudo falaremos apenas da segunda fase de Wittgenstein, pois
entendemos como mais relevante para o ensino médio as questões apresentadas nas
investigações filosóficas.
Nesta fase passou a afirmar que é impossível uma redução legítima entre
um conceito lógico (da linguagem) e um conceito empírico (realidade). Em outras
palavras, a linguagem não é a captura conceitual da realidade, isto é, não é a
reprodução do objeto, mas sim uma atividade, um jogo. E os jogos de linguagem
adquirem seu significado no uso social, nos diferentes modos de ser e de viver
no qual a linguagem está inserida. Estes jogos, portanto, são produzidos
socialmente e não individualmente. “A linguagem é como uma caixa de
ferramentas”. Ela não é falsa ou
verdadeira, mas se sabemos ou não a usar.
A tarefa da filosofia é usar adequadamente a linguagem, sabendo dos seus
limites e calando-se diante do que não pode ser falado.
Na a obra Investigações Filosóficas o filósofo fala em
semelhanças entre jogos de linguagem. Esse pensar dá mais vitalidade a
linguagem, pois exercitamos tais jogos na vida cotidiana adaptados a cada
circunstância: trabalho, lazer, disputas filosóficas e etc. O que há em cada
situação é apenas uma “semelhança” de família. Assim pensando Wittgenstein, nas
investigações, conclui que o sentido da palavra é o seu uso e o papel da
filosofia é esclarecer o uso de cada uma das palavras em cada jogo de
linguagem.
A linguagem para este filósofo é baseada no habitual, no
cotidiano. Wittgenstein diz que há
várias maneiras de representar os fatos, existem muitas linguagens semelhantes
a jogos governados por regras próprias, inerentes a um dado contexto, cada
jogo. Pertence a uma certa forma de vida onde tira seu sentido. Esse sentido se
dá no uso que se faz da linguagem. Uso contido no cotidiano, nos modos comuns
de falar ou nas linguagens específicas de artesãos e dos técnicos, e que não
necessita de esclarecimentos. O fim de um determinado jogo é definido pela
forma de vida em que se insere esse jogo. O proferimento humano é responsável
por um padrão de correção. Tal padrão é um artefato humano. Isso não quer dizer
que um indivíduo pode decidir por si mesmo o que é certo e o que é errado na
arte da comunicação. Estamos vinculados à concepção que fazemos de nós mesmos
como seres que observam um mundo independente e nele agem. Se nos opomos a verdades que nos parecem
necessárias, tal se dá apenas porque fomos nós que criamos as regras que as
fazem ser assim; e também podemos abrir
mão daquilo que criamos.
Fica mais evidente a existência de jogos quando ensinamos uma criança.
Dizemos, “Isto é um giz”. Ela entende.
Mas de repente ela nos pergunta, “O que é isto?
Como mostrar a palavra isto?
Patenteia-se que o significado de isto ou ali se aprende no seu uso mesmo e não
tanto no aprender do uso. As palavras só se tornam claras no seu uso comum num
determinado jogo de linguagem. A palavra explica-se no contexto em que for
usada. Representar uma linguagem significa representar-se uma forma de vida.
Essa referência à vida nos faz lembrar movimento, associações e variações.
Assim é nossa linguagem.
As palavras explicitam-se quando nos inteiramos do jogo em que elas
fazem parte. A frase do chefe ao funcionário: “Tu podes fazer isso para mim? ”
Para o funcionário significará, apesar de ser uma pergunta, uma ordem na práxis
da linguagem do escritório. Mas esse mesmo funcionário, ouvindo a mesma frase,
mas proferida por um amigo, a entenderá de forma diferente. Uma expressão dita
a um estranho, por exemplo, “Ë legal! ”, será ambígua. Poderá significar um
fato juridicamente válido ou uma gíria com sentido bem diverso. Para reduzir a ambiguidade,
torna-se necessário que convivam algum tempo no mesmo jogo.
Fica então evidente, que simplesmente denominar não faz uma linguagem.
Quando apontamos à uma criança muito nova uma mulher e dizemos ”mãe”, a criança
entenderá imediatamente que todos têm mãe? Que nem todas as moças são
mães? Que a mesma mulher que é mãe,
também é tia, irmã, esposa, empregada? E quando ouvir a expressão “mãe pátria?
” Entenderá ela que a palavra mãe ocupa vários “lugares” nos vários jogos de
linguagem?
A linguagem funciona em seu uso. Não nos cabe indagar sobre os
significados das palavras, mas sobre suas funções práticas. Essas funções se
exercem na vida. Isoladas de todos os contextos, a expressão não deve ser
transformada em objeto de ponderações profundas sobre sua essência. Devemos
considerar toas as espécies de contexto em que ela pode aparecer, só assim a
elucidaremos.
Segundo o autor a linguagem engendra, ela mesma, suas superstições. A
filosofia tem como tarefa esclarecer e neutralizar os efeitos enfeitiçadores da
linguagem. O problema encontra-se no ímpeto em perguntar sobre a essência da
linguagem. Devemos voltar nossa atenção a estudos sobre o funcionamento da
linguagem. Os usos múltiplos e variados,
constituem múltiplas linguagens. Ela é um conjunto de jogos. Esses jogos são
como ferramentas usadas para esclarecer o que queremos expressar.
[1] Bibliografia:
Abbagnano,
Nicola. A sabedoria da filosofia, Rio de Janeiro, Vozes, 1989.
Cotrim,
Gilberto. Fundamentos da Filosofia. 15a edição. São Paulo. Editora
Saraiva. 2000.
Doria,
Francisco Antônio. Marcus vida e obra, Rio de Janeiro, José Álvaro editor,
1969.
Stegmüler,
Wolfgang. A filosofia contemporânea, 6a edição, São Paulo, USP, 1977.
Wittgenstein,
Ludwig. Investigações Filosóficas, 3a edição. São Paulo. Abril Cultural, 1984.
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