domingo, 22 de abril de 2018

Aos colegas do Direito, minha homenagem.


 Sobre a academia, hoplitas e rapinadores.




Gosto muito da imagem do hoplita[1] grego. Forte e pronto para a guerra. Envolto em armadura de couro, protegido por armas pesadas. Eram o tanque de guerra da pré-história das guerras. Temível! Irmanado com seus iguais, se jogava às mais insanas batalhas. Algo colossal.



Quando saímos das academias, sentimo-nos como os hoplitas. Armados com princípios éticos potentes e luzidios recém-desenvolvidos para serem empunhados.  Como os guerreiros gregos, os acadêmicos ao se formarem saem para as grandes batalhas. São inúmeras. Mas a maioria não são colossais. São escaramuças. São rápidas e mortais. O ambiente é móvel e mutável. As batalhas hoje tendem a serem ganhas por ardis e espertezas.  Parece não ser possível a luta leve para guerreiros tão pesados. Blindados. A técnica atual é a da blitzkrieg! [2]



Fora da academia a moralidade nela desenvolvida, pesa. Princípios elaborados para blindar o aprendiz, hoje parecem ser pesos mortos. Fora do ambiente acadêmico, a batalha parece ser para os rápidos.  A esperteza se coloca como vencedora das certezas lineares. Os aprendizes blindados são como vitimas fáceis nas mãos dos emboscadores. Estes armadilham, argumentam rápido demais. Os hoplitas são lentos nas suas armaduras. Aguentam os impactos por algum tempo. Mas a velocidade e as mudanças cada vez mais rápidas não perdoam.  Inúmeros guerreiros caem emboscados.



Num primeiro momento, as táticas se sobrepõem à ética.  A malícia armadilha quem reflete.  O escudo dos princípios da justiça pesa nas mãos. É mais rápida a flecha treda envenenada por argumentos falaciosos. A falácia é mais fatal que os silogismos válidos com premissas verdadeiras!



A academia resiste. Quer combatentes éticos, fortes e coerentes.  Prepara os guerreiros para as grandes lutas. Simula os ambientes possíveis das guerras estrangeiras ao ambiente escolar.  Escudam seus hoplitas.  Forjam espadas éticas duras, inflexíveis.  Delimitam horizontes éticos. As viseiras de couro impedem ao combatente ver opções indignas do bom combate.



Então o guerreiro sai pronto para o embate. Mas tudo é muito diferente. Ele tem armas possantes, mas na maioria das vezes o inimigo é pequeno e rápido.  Belisca e não morde. Envenena mas não dilacera. Então o combatente fica desnorteado. A moralidade parece pesar demais. Os maliciosos são mais rápidos e não tem nada a perder. Não precisam de justificativas nem da justiça.  Agem por cobiça e por instintos.



Mas, por que os hoplitas são lembrados e os demais não?



A história rejeita os emboscadores.  As medalhas são grandes demais para os peitos pequenos. O embuste, a fraude, a rapina rápida e a emboscada são inglórios. Os moralmente pequenos não lutam os grandes confrontos.  As academias produzem grandes guerreiros para espetaculares batalhas. Não querem menos que isso.



Lembro aos inglórios, rápidos e vorazes, que brigam por migalhas e despojos: a história é seletiva por querer heróis de espírito. A história ama os espiritualmente fortes.  Os livros e os louvores pertencem aos hoplitas éticos.   Os ventos que ventam para os heroicos são tempestades para os ratos. Ratos não foram feitos para serem lembrados. Existem apenas para se multiplicarem e desaparecerem.



Os hoplitas vivem para mudar as sociedades. Existem para fazerem história, criarem teorias e novos princípios éticos. As almas desses hoplitas voltam para serem ensinados nas academias. Voltam machucados e heróis. Voltam e são ensinados aos jovens. Agora, servem para blindar os novos guerreiros. A história não pode parar. Ela está à espera de novos guerreiros para forjarem novos tempos. 



Reflitam: rapinadores, ratos, vendilhões e guerrilheiros não sabem nem podem fazer história. 





[1] [1] Hoplita era o soldado de infantaria da Grécia clássica. Seus componentes eram cidadãos treinados para serem soldados. No mundo grego, os Hoplitas eram a melhor infantaria. Dominaram os combates por séculos.

[2] O Blitzkrieg (guerra-relâmpago): Tática militar alemã que consistia em atacar rapidamente, sem chances de revide. Tinha como tática: a surpresa, a velocidade e a força.

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