A realidade da
separação corpo e mente
Prof. Amilcar Bernardi
Quando penso em
separação corpo/mente vem à minha cabeça Platão e Descartes. Tinham eles, e
outros é claro, um ideal de separação onde a mente tinha evidente superioridade
sobre o corpo. Cheguei a crer que essa separação estava sepultada pelos avanços
da Psicologia e da Filosofia. Porém, essa dicotomia atingiu o ápice na
proporção em que a tecnologia avançou e tornou possível na prática diária essa
divisão corpo (pesado, fixado) e a alma (como conhecimento e informações
voláteis e onipresentes).
É do senso comum que
hoje o que “vale” é o conhecimento. Pessoas que sabem mais são mais, mesmo que
seja pouco provável que saibamos identificar o “saber mais” do “saber menos”.
Parece que pessoas mais espertas merecem o sucesso e as almas mais obtusas nada
merecem, ou merecem bem menos.
As tecnologias
favoreceram e realizam de fato a separação corpo/alma. Hoje, e cada vez mais,
as mentes viajam volatizadas, descorporizadas pelo mundo virtual. Elas vão a
qualquer parte do planeta, viajam por bibliotecas no mundo, sabem cada vez mais
de mais coisas. E o corpo? Fica sentado e obeso em frente ao computador.
Inclusive pessoas cada vez mais se apaixonam por outras pessoas virtuais, ou
seja, se apaixonam por mentes que se projetam nas redes sociais. Quase que o
físico, o corporal não importa mais. O mundo material é cada vez mais um
empecilho para a realização da vida sem corpo, da vida virtual.
As discriminações
tendem a ser mais pelo que as mentes possuem do que pelos corpos sarados.
Corpos cada vez mais tendem a existir apenas para o prazer sexual, e as mentes
espertas e perspicazes, tendem a ganhar maior valor social. Mesmos as
diferenças sociais baseadas na riqueza, são valoradas diferentemente: riquezas
obtidas por proezas da mente (inteligência e mesmo apenas malandragem) são mais
consideradas que aquelas vindas do trabalho corporal e do suor. Convém lembrar
que até as riquezas são virtuais: já não é mais possível materializar toda a
riqueza planetária em notas de dólar. A riqueza só é possível dentro das
máquinas virtualizantes nos bancos.
O mundo social está
vivendo um momento interessante: cada vez mais investe no ideal de mentes inteligentes
desligadas dos corpos. Mentes viajantes nos pelos espaços virtuais onipresentes
e oniscientes. Os corpos sarados e lindos, cada vez mais são um produto para
consumo rápido, como se fossem de pouco valor, um pequeno deleite entre uma
conexão e outra.
Imagem: http://2pass.wordpress.com/2009/11/23/se-eu-fosse-virtual/